domingo, 23 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - Nebraska


    Alexander Payne é um diretor e roteirista que, em sua curta, porém formidável filmografia enfoca em homens comuns. Estes exemplares que partem em jornadas simples, mas que no fim revelam muito sobre eles. "Sideways", "As Confissões de Schmidt" e "Os Descendentes" são ótimos estudos de personagem, acompanhados de excelentes análises sobre a sociedade - em seus diferentes focos -. Em seu mais recente longa, "Nebraska", pela primeira vez Payne dirige um roteiro que não é de sua autoria, mas que não foge desta estrutura.

    Escrito por Bob Nelson, o roteiro conta a história de Woody (Bruce Dern, "Django Livre") e David (Will Forte, "Vizinhos Imediatos de 3º Grau"), pai e filho, que embarcam numa jornada após Woody receber uma carta dizendo que ganhou um milhão de dólares. Mesmo sabendo que se trata apenas de uma enganação e com os berros de reprovação de sua mãe, Kate (June Squibb, "Perfume de Mulher"), o filho se propõe a acompanhar o pai até a cidade onde supostamente deve retirar o prêmio. No meio do caminho, porém, David resolve reunir o pai e sua família que há tempos não se veem.

    Utilizando maravilhosamente bem a fotografia em P&B, que cumpre seu papel em criar um ambiente precisamente melancólico e desesperançoso, o longa embarca nesse road movie entre pai e filho. O reencontro de Woody com seus amigos e parentes não poderia ser pior e mais representativo em termos de prisma social. Unicamente interessados no dinheiro do suposto novo milionário, surgem débitos do passado aos montes. E os supostos momentos de união familiares são absolutamente desinteressados, com uma família que não consegue criar uma conversa minimamente decente. Homens que ficam assistindo ao jogo na TV e só trocam algumas parcas palavras para falar sobre carros.

    A construção de Nelson e Payne é eficiente na construção de sua metáfora social e quase sempre consegue desviar com habilidade da caricatura e do lugar-comum. Além de sua visão ampla sobre a família, o longa entra numa discussão próxima à vista em "As Confissões de Schmidt" sobre os efeitos da idade no ser humano. É, em última análise, um apanhado imagético sobre a vida. Tanto do ponto de vista do filho, esforçado em criar uma situação de felicidade e perseguir o sonho de seu pai que a qualquer momento pode partir; quanto do pai, que como diz a mãe "não vê o que ocorre ao seu redor metade do tempo".

    As atuações são certamente outro destaque. Bruce Dern, ganhador do prêmio de melhor ator em Cannes, está magistral e poderoso. June Squibb também está competentíssima e apaixonante no papel da "super sincera" Kate. Will Forte surpreende em uma interpretação crível e segura, assim como os demais coadjuvantes. Certamente um dos melhores elencos do ano.

     Mesclando humor e drama, como típico nas obras de Payne, o longa consegue construir uma transição eficaz entre ambos, sem se tornar irregular. Mas é certamente na sua vertente dramática que o filme guarda sua força, ao contar uma história emocionante, tocante e real. Um retrato social sincero sobre a vida e a forma como passamos por ela, com suas alegrias, tristezas, sucessos e fracassos. Roteiro brilhante, direção competente, atuações magníficas e técnica eficaz alicerçam uma película memorável e simples, como nossa vã existência.

Nota: 8/10
    

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