terça-feira, 4 de setembro de 2012

Análise - O Cinema Mundial (Parte I): O Público e Suas Consequências


    Durante uma aula expositiva sobre África, entramos numa discussão quanto à imagem que temos de determinado país ou região. Normalmente é uma imagem unidimensional e superficial. ''Vendida'' a nós como se fosse uma verdade. Esse tipo de falsa ideia tanto pode estar agregado às nações africanas, quanto às asiáticas, americanas... E também é perfeitamente agregável ao cinema como um todo.

    Se quando estudamos a História da humanidade nos é despejada toda a cronologia de acontecimentos na Europa, e quase nada sobre as outras regiões; na sétima arte também fica facilmente perceptível a predominância de um dos vários pólos produtores no campo cinematográfico: o dos Estados Unidos, sintetizado por Hollywood. A maioria dos filmes em cartaz nas grandes redes é de lá, portanto é de lá que saem os produtos que mais serão apreciados pelo público em geral.

    Público em geral esse que é denominado numa análise mais ''técnica'' como o tal do ''espectador-médio'': aquele cara que entra na sala de projeção depois de ter passado algumas horinhas no shopping com a família e apenas desejando relaxar e se divertir. E a principal crítica que tenho a esse tipo de público não é por esse ''objetivo'' (é mais do que correto querer um pouco de diversão!), o problema é a falta de senso crítico que essa maioria apresenta.

    Normalmente a análise feita sobre um filme é curta e simples: ''gostei'' ou ''não gostei''. Não que seja necessário ter todo um conhecimento técnico e tecer longas críticas, um maior discernimento do que lhe estão vendendo já seria mais do que satisfatório. E isso também vale para a música, literatura e para a História! É como a diferença entre se acomodar com a versão unidimensional e mentirosa, ou buscar a verdadeira realidade de tal povo ou de tal momento histórico.

    A falta de senso analítico ocasiona, infelizmente, o sucesso financeiro de filmes massacrados pela crítica especializada e o fracasso de grandes obras (cujos diretores podem nunca mais ter uma chance). Cresce o interesse nas comédias românticas quase sempre idênticas, n'Os Mercenários que tem como condição para aproveitá-lo o desligamento do cérebro... Por conseguinte cai o interesse no cinema clássico, no cinema inventivo... 

    Esse problema tem duas grandes consequências igualmente importantes: a monopolização do mercado cinematográfico e uma falsa imagem de que ''acabou a criatividade'' nos filmes. Sendo que a primeira é de simples visualização: além da diminuição da variedade de gêneros populares, os que estão em alta são majoritariamente produzidos pela indústria norte-americana. Somando isso ao fato de que os atores mais conhecidos fazem parte desta indústria, o monopólio está quase todo consumado. 

    Enquanto Hollywood domina a maioria do mercado mundial, o restante fica com as exceções. Os coadjuvantes mais populares num panorama global são Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Espanha; e que são bem coadjuvantes mesmo (desconsidere os britânicos aí e... vai me falar que você não estranha quando a língua do filme não é o inglês?!). Numa visão mais regionalizada, dá para citar Índia, Japão, Nigéria, China...

    Já a segunda consequência dos espectadores ''não seletivos'' é mais prática, porém menos observada. Já ouvi algumas vezes: ''filme agora é só adaptação de livro'', ''cinema tá tudo igual''... Não é verdade! Se o cinema hollywoodiano só produz obras semelhantes, é porque é o que público em massa paga para ver! Mas e o resto do mundo? Será que essa situação é mundial? Não, não é.

    Uma prova casual disso é um fenômeno que acontece com a maioria dos cinéfilos: ver nas suas listas de favoritos do ano muitos filmes ''não americanos''. Ainda há muitas obras excelentes sendo lançadas por todo o mundo: o cinema não estagnou. Para ficar preso a exemplos mais conhecidos:  O Segredo dos Seus Olhos (Argentina), A Pele que Habito, O Labirinto do Fauno (Espanha), Melancolia, Em um Mundo Melhor (Dinamarca), A Queda!, A Vida dos Outros (Alemanha), Medos Privados em Lugares Públicos, Entre os Muros da Escola, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Cópia Fiel (França), A Viagem de Chihiro (Japão), A Separação (Irã), entre outros...

    Pesquise, procure, se informe. Não estou dizendo que eu seja um grande exemplo quanto a isso: minha experiência ''estrangeira'' é infinitamente menor em relação à com os hollywoodianos; mas eu estou correndo atrás desse atraso. Vá aos cinemas de rua, use a Internet, saia da zona de conforto e encontre o mundo que existe após a cortina do superficial e unidimensional.

(...)

P.S.: Os cinco maiores produtores mundiais de filmes são, já em ordem; Índia, Nigéria, EUA, Japão e China.