sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - Ela


    A carreira do diretor Spike Jonze inicialmente era atrelada a filmes roteirizados pelo gênio Charlie Kaufman. Ao lado dele entregou grandes obras como "Adaptação" e "Quero Ser John Malkovich", as quais guardavam boa parte da sua força no talento de Kaufman em seus roteiros inteligentes e criativos. Em 2009, então, Jonze se lançou à "carreira solo" com "Onde Vivem os Monstros", mas apenas agora com "Ela" podemos dizer que realizou um grande acerto. Aclamado pela crítica e público, o longa é uma obra densa, bela e original.

    Se passando em um futuro não muito distante, em que o ser humano adquiriu uma proximidade e contato ainda mais forte com as máquinas, o filme conta a história de Theodore (Joaquin Phoenix, "O Mestre") e sua relação romântica com o sistema operacional que coordena sua vida, Samantha (voz de Scarlett Johansson, "Encontros e Desencontros"). Algo próximo de uma Siri superdesenvolvida, com sentimentos e personalidade própria e construída para contemplar todas as necessidades (todas mesmo!) de Theodore.

    Apesar da trama aparentemente fora de realidade, a construção de Jonze cria um ambiente totalmente crível. É, na verdade, uma análise sobre o sentimento humano; não uma banal comédia romântica. Jonze não se prende a limites e abarca toda uma discussão sobre a natureza do que sentimos. Contrastando com o relacionamento de Theodore e Samantha; temos diversos estágios das relações humanas. O primeiro encontro. O início. O meio. O fim. O divórcio. A dor. A desilusão. O recomeço.

     Os personagens são defendidos com absoluta competência pelo forte elenco. Joaquin Phoenix demonstra ser um dos melhores atores da atual geração, com uma interpretação sensível e real. Scarlett Johansson estranhamente toma o filme para si a partir de uma composição de voz extraordinária. A atriz consegue trazer toda a complexidade daquela criatura tecnológica unicamente pela voz. Não a vemos, mas a sentimos de forma completa. Amy Adams como Amy, amiga de Theodore, também merece destaque. Além de Olivia Wilde e Rooney Mara, em pontas interessantíssimas.

    Contando também com uma belíssima trilha sonora e uma competente direção de arte, "Ela" possui o melhor dos roteiros originais indicados ao Oscar deste ano. A transformação de um argumento interessante em realização excelente é feita com grande habilidade por Jonze, também roteirista. Mesmo que também apresente certas críticas à relação homem-máquina, seu foco não é este - e ele nem perde tempo com essa discussão já tão exaustivamente explorada -. Ao observar isso por um novo ângulo, Jonze mantém o fôlego do longa e o interesse do espectador, mesmo que lá pelas tantas de seu último ato o filme perca força e caia numa resolução convencional.

    Ainda que não tenha a força de suas parcerias com Charlie Kaufman, "Ela" serve como afirmação autoral de Jonze em sua caminhada solo. Uma interessante obra que indica mais um diretor e roteirista que merece ser observado. "Ela" é um filme belo, poderoso e que apresenta pontos de vista e discussões interessantes. Acompanhado de boas interpretações, é certamente um dos filmes da temporada de premiações que não pode deixar de ser visto.

Nota 8/10
    

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