segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Crítica - Shame


     Brandon (Michael Fassbender, de "X-Men: Primeira Classe") é um homem rico, bem-sucedido, viciado em sexo e solitário; que tem sua rotina diária de prazer ilimitado e sem significado interrompida pela chegada de sua irmã, Sissy (Carey Mulligan, de "O Grande Gatsby"), que sofre por não conseguir se firmar em um relacionamento amoroso. Duas almas em profundo sofrimento. E que me atingiram como uma avalanche.

    Eu consigo lembrar exatamente o sentimento que tive ao final de Shame. Só não consigo explicar. Um dia nublado em São Paulo. Eu saindo do cinema da Livraria Cultura. Fiquei andando pela avenida Paulista - indo e voltando num loop - por mais de uma hora, a fim de digerir aquilo tudo. Ah, a catarse... como é bom quando um filme deixa uma marca em você, né? Porque os detalhes dele você pode até esquecer, mas aquilo que ele te causou vai ficar impregnado na sua mente. Shame me fez sentir, me perturbou, me deixou vulnerável, me atropelou.

    É complicado escrever uma crítica para este filme. Críticas demandam tecnicidade, objetividade... Normalmente, uma estrutura de "sinopse-elogio-elogio-defeito-defeito-ressalva-acerto-nota". E o maior elogio que eu poderia fazer ao filme é puramente subjetivo. Se o cinema é feito de sensações, Shame constituiu uma das minhas maiores - e mais perturbadoras. Todavia, mesmo depois de horas encarando o notebook, demorei a colocar em palavras a forma como ele me destruiu.

    Com certeza a atuação precisa, sensacional, memóravel - insira mais quantos adjetivos positivos quiser - de Michael Fassbender no papel principal foi uma delas. Mas não foi só isso. A belíssima cena de Carey Mulligan e sua frágil Sissy cantando "New York, New York" em uma versão absolutamente sensível ajudou, é claro. Ah, temos a direção primorosa de Steve McQueen, que faz um dos melhores usos da câmera e seus enquadramentos dos últimos tempos.

    Também já coloquei na conta o trabalho de roteiro do próprio McQueen e Abi Morgan que constrói o forte contraponto entre os personagens de Fassbender e Mulligan de forma brilhante até que cheguemos ao inevitável conflito final que... ah, as palavras faltando de novo. Não há cena, enquadramento ou diálogo inútil. Tudo ali é importante. Tudo ali é fundamental na construção das personalidades, dos sofrimentos internos, das emoções de ambos os personagens. Uma vez que, apesar de o personagem principal ser Brandon, sua irmã não está presente tão somente como um contraponto. 

     Na verdade, Shame não observa só o vício em sexo. Observa o elemento sexual. De maneira crua, sem fetiches. Isso está presente desde a cena inicial com o nu frontal de Fassbender até o final. Final que diz muito. Ele resume o que é o filme: as respostas estão nos olhares, na expressão do personagem, nos enquadramentos. E é tudo isso. Junto e espalhado pelos 99 minutos do longa, que tornou Shame um de meus filmes preferidos, me destruiu e me deixou pensativo por horas.
    
Nota: 9/10

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