segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - A Grande Beleza


    "A Grande Beleza" é um filme contemplativo. Não muito fácil de se assistir também, é verdade. Pela própria intenção de Paolo Sorrentino com sua obra, não poderia ser um filme de estrutura narrativa comum, posto que não possui uma linha única em sua história. Se trata de um filme de situações, em que o todo não forma uma sequência narrativa totalmente amarrada em si, mas sim um mosaico de fatos, reflexões e simbolismos.

    Sorrentino busca, através dos olhos de um já sexagenário escritor, construir um retrato da sociedade italiana contemporânea. Reservados os devidos momentos políticos e sociais distintos, se aproxima muito do cinema de Federico Fellini - o que sempre é lembrado e relembrado nos textos por aí sobre o filme -. Logo em seus primeiros momentos o longa já deixa claro que os tempos são outros, quando durante a festa de aniversário de 65 anos de Jep Gambardella (Toni Servillo, de "As Consequências do Amor"), o protagonista, vemos uma alta sociedade envelhecida e deslocada.

    Construída com eficácia pelo roteiro do próprio Sorrentino acompanhado de Umberto Contarello, essa viagem analítica em meio às disfunções e futilidades que permeiam a sociedade italiana se mostra extremamente competente em cumprir seu objetivo de contemplação, adoração e julgamento - tudo ao mesmo tempo -. É um misto de passeio turístico com crítica social e viagem pela arte romana, espalhado pelas 2h20 de duração do longa (que poderia, sim, ser menor sem perder força - Sorrentino pecou pelo excesso -).

    Além disso, o filme se destaca também por sua parte técnica. A direção do italiano é competente e - apoiada na belíssima fotografia -, traz um excelente trabalho de câmera, que amplia os horizontes do filme e o engradece ainda mais. Os créditos finais, acompanhados de um tour turístico pela capital italiana demonstram bem as belas imagens que "A Grande Beleza" (hum...) nos proporciona.

    Após toda a jornada e passadas quase duas horas de sua duração, o longa chega a outro de seus problemas: os sucessivos "finais-que-não-são-finais-só-parecem-ser-finais". São diversas cenas que perfeitamente serviriam como fechamento de tudo aquilo, mas Sorrentino parecia querer mais. Claro, há muita a coisa a se dizer num filme deste tipo, que não se prende a uma estrutura simples e se horizontaliza. Entretanto o espectador, já até um pouco cansado e atordoado - não é um filme fácil, eu disse -, não está mais tão arrebatado pela jornada.

    Em uma visão geral, "A Grande Beleza" é um grande filme, extremamente bem executado e que cumpre suas enormes pretensões com particular maestria e elegância. Os deslizes, causados pelo excesso, seja na duração, seja pela demora para o seu desfecho; se mostram bem menores quando comparados à realização de Paolo Sorrentino.

Nota 8/10


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